CULTURA E OUTRAS NARRATIVAS (1) | Falta
- Felipe Urbano
- 6 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de mar. de 2024

Uma narrativa recente do Vale do Silício se popularizou nos cafés corporativos: “abundância”. Peter Diamandis, da Singularity University, o mensageiro. Quando li seu livro e escutei a palestra na California não era difícil acreditar no que ele dizia. Anfiteatro climatizado, todo mundo bem vestido, com intenção de mudar o mundo e, de algum modo, felizes. Aliás, tristeza não costuma ser bem recebida em ambientes de “networking”. Queremos conhecer pessoas interessantes, positivas, bem-sucedidas e parecer ser uma delas.
Peter Diamandis carregava um mantra: “o futuro é melhor do que você imagina”, sugerindo que estamos cada vez mais preenchendo a “escassez” no mundo com “abundância”. Controversa? Sempre.
Uma coisa é certa, Peter tocou no cerne da natureza humana: o grande desafio de conviver com a falta. Há 80 anos, o trágico Sartre pós guerra que o diga: O ser e o nada. Para Peter tudo, para Sartre, nada. Em ambos, o diálogo com a falta.
Recentemente, em uma discussão com uma equipe executiva a pauta era a celebração de terem na organização uma cultura de muito respeito, cuidado com as pessoas e polidez. A própria natureza do negócio influenciava fortemente essas características. Contudo, havia um desconforto sobre a ausência de transparência em algumas conversas, clareza sobre o que precisa ser dito e baixa disponibilidade para discordâncias.
Em um polo, o medo de ter uma cultura excessivamente honesta e rude; no outro, uma harmonia fantasiosa. Entre os extremos, desejava-se mais assertividade, responsabilidade individual e franqueza.
A executiva assertiva, acostumada a realidades pragmáticas, com histórico de conversas duras, resiliente… sofre. A cultura rejeita o comportamento. Nas tentativas de transformar a cultura: confronto, culpa, frustração e boas doses de resignação.
A cultura parece não se moldar aos nossos desejos individuais; ela é como é. Com espaços de ajustes? Poucos. Com espaços de adptação? Muitos!
Falta.
Aprendi com um amigo radicalmente honesto que respondia à pergunta: “Tudo bem com você?” com “Tudo é muita coisa!”Ele me lembrava que, incompletos que somos, nem sempre lidamos bem a falta.
No ambiente da cultura, conviver com a falta não é resignação, é maturidade. Não é escolher estagnar, é evoluir. Não é falta de progresso, é honrar história.
Querer tudo, do seu jeito, como gostaria que fosse… é muita coisa.
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