Ontem, a BBC publicou no território vizinho (estou por lá @pontofelipeurbano) uma pequena matéria sobre as causas de perda de competitividade do Japão nos últimos anos. O que não significa que o país esteja em crise, mas perdeu espaço global diante da promessa que ocupava.
Quando era estagiário na Bosch, aprendi o espelhamento do Sistema Toyota de Produção (Taiichi Ohno) nas práticas fabris da gigante alemã e a magia do Lead Manufacturing no redesenho de processos.
No arcabouço de ferramenta, o poka yoke. A premissa básica do poka yoke era ser uma mecanismo anti-falha. Logo, qualquer problema na linha de produção era protegido por algum mecanismo que denunciava o erro. O caso mais popular do seu funcionamento foi sobre caixas vazias e ventiladores na produção de creme dental.
Passaram-se quinze anos até a nova economia me dizer que sem falha não havia inovação e o mantra de outro lead aparecer: “Errar rápido, barato, corrigir rápido e aprender muito com isso”. Lean também… agora, Startup. O ápice da cultura pop apareceu no Fuckup Nights (evento para celebrar as falhas que cometemos e o que aprendemos com elas).
Teria o Lean Startup vencido? Claro que não, mas isso é assunto para outro momento.
De um lado Poka Yoke, do outro Lean Startup e fechando o vértice desse triângulo chegamos na brisa abençoadora de humanidade que alcançaram as empresas no mundo entre pandemias: erro e humanização. Frente liderada pela santa trindade americana na humanização das empresas: Brene Brown (vulnerabilidade), Susan David (agilidade emocional) e Amy Edmonson (organizações sem medo).
Quando estou mediando processos de cultura e erro aparece como traço cultural, já me arrumo na cadeira que a conversa vai ficar boa.
"Precisamos criar um ambiente psicologicamente seguro para erro" diz a voz da sensibilidade
"Um erro aqui pode custar uma vida" diz a voz da prudência
"Como diria Rita McGraft: errando que as organização aprendem" diz a voz inovativa e estudiosa
Aprendi a pensar sempre o mesmo caminho para começar a dissolver o nó, casos práticos.
A conversa vai revelando o óbvio que precisa ser dito: Erro tem lugar que pode e lugar que não pode. Dedo na tomada não é dedo no fio de alta tensão. Empresa de saúde com centenas de procedimentos cirúrgicos no dia não é fábrica de software. Protótipo não é de graça, produto maduro não é sagrado.
Comunicar isso para a organização é um exercício diário de liderança. Fio vermelhos são duplamente encapados, tem poka yoke, dependem menos da sorte humana para acontecer. Quando acontecem, primeiro o processo, depois a pessoa - assim ensina a trindade.
Medo de errar é neurose, precisa de tratamento. Tratar mal quem erra é psicose, também precisa.
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Crédito da ilustração: Angels and devils, M C Escher
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