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CRÔNICAS DO subSOLO | Paciência

Atualizado: 28 de mar. de 2024


Felipe Urbano
Stephane Burlot

Chegou cedo, como sempre, pegou a vaga tão almejada ao lado do elevador. O dia começa mal quando alguém já está por lá. As outras demoram mais e gente ansiosa faz bem quando sente que ganhou qualquer fração de tempo.

 

Subiu para sua sala, a mesa arrumada como ele gostava com um ar de organização que o confortava. Tomou o café da máquina que insiste em demorar a ligar, pegou a papelada e rumou para a sala de reunião andando rápido. A reunião do comitê executivo começava pontualmente 08:30 e o novo presidente era sempre o primeiro a chegar.


As coisas andavam bem e aparentemente não tinha muito o que se preocupar. Quer dizer, tirando o projeto de expansão, que foi logo lembrado no início da sessão. Num azedume só, o presidente resolveu descarregar nele suas decepções com o projeto. Assim, logo de manhã. Por que estava demorando tanto? Por que os números continuavam ruins? Não tinha ele dado todos os recursos para o projeto andar?


Profissional experimentado, deixou o presidente falar tudo o que queria para esvaziar a irritação. Depois começou, com toda a paciência que conseguiu amealhar, explicar que o projeto de expansão tinha um prazo de cinco anos para dar resultado, que a situação de agora é apenas uma parte do todo, que a empresa tinha entendido que precisava desses cinco anos de investimento para poder ficar no mercado por mais cinquenta anos.


Cantilena repetida toda vez que o menino de estratégia, também recém chegado e importado de consultoria de grife, resolvia cobrar resultados. Como se fosse possível tirar um carvalho centenário de dentro de uma muda de alguns dias. Paciência.


Paciência que ele mesmo não teve quando fez a reunião de alinhamento de equipe. Por causa do diretor recém-contratado que parecia não dar conta do trabalho. Já fazia uns seis meses que estava na equipe, mas as coisas não fluíam como deviam.


Voltou para sua sala, deu uma bufada impaciente e desabou na sua cadeira. Ficou sem saber o que fazer. Não estava com muita paciência para explicar de novo para o presidente que projeto com retorno de cinco anos não dá resultado em dois anos. Além disso, estava rapidamente perdendo a paciência. Sem paciência, caminho sem volta. Então fez algo ao arrepio do bom senso: pegou o carro e foi almoçar sozinho. Com algum sofrimento, correndo o risco de perder a vaga no andar da diretoria.


No caminho e sintonizado na rádio sempre presente, escuta essa: “O mais forte dos guerreiros são dois: tempo e paciência”, dito atribuído a Tolstói, aquele russo famoso, na voz da jornalista sábia do meio-dia.


Quis ser vigoroso, mas teve que se contentar com tempo e paciência. Afinal, o projeto de uma vida não pode se resumir em duas reuniões.

Renovou seus votos com o tempo e a paciência. E decidiu que o primeiro beneficiário dos votos renovados seria ele mesmo.

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